O oitavo álbum de estúdio de Tiziano Ferro tem ótimas baladas, sempre com a cara do Tiziano, além de colaborações para os gostos e territórios mais variados, procurando explorar também o mundo do rap com Ambra, Thasup e Caparezza, além das presenças ilustres de Sting e Roberto Vecchioni mantendo o equilíbrio pop e vintage. Ao todo, são 13 músicas que contam uma trajetória sã e muito bonita.
Para aqueles que não acompanham a carreira de Tiziano, recomendo assistir ao documentário Ferro (2020), disponível no Prime Video. No documentário, Tiziano conta sua relação com o alcoolismo, a depressão e os problemas que enfrentou no passado.
Estamos falando de um artista com 20 anos de carreira, e certamente é difícil se renovar constantemente sem frustar o grande público – mas Tiziano consegue. O álbum representa a volta à vida, a vida de verdade.
Faixas:
1. Il paradiso dei bugiardi
2. Il Mondo è nostro
3. La vita splendida
4. Addio amore mio
5. La prima festa del papà
6. Mi rimani tu
7. A parlare da zero
8. L’angelo degli tri e di se stesso
9. Ambra/Tiziano
10. I Miti
11. Quando io ho perso te
12. For her love – sempre amata
13. R[]t[]nda
Ao meu ver, o álbum tenta se aprofundar na transição, ou introdução, que Tiziano vem fazendo aos ritmos mais “urbanos” sem deixar de pôr sua marca registrada em cada faixa, o que vem acontecendo desde o álbum “Il Mestiere Della Vita” (2017), por exemplo, com o single Lento/Veloce.
E o melhor de tudo: baseado em fatos reais, com dedicatórias reais.
Gosto bastante do resultado, e principalmente das letras. Cada música traz à tona um tema pessoal do Tiziano que, sendo impossível de não associar ao documentário, mostra ter superado grande partes adversidades. Ao entender as letras sob essa visão, acredito que seja impossível não esboçar um sorriso pela felicidade pura retratada nelas. Esse é o caso de “La prima festa del papà”, por exemplo, música emocionante tanto na escrita quanto no instrumental, cantada sobre a emoção de finalmente passar pelo sistema de adoção (que não é muito receptivo com casais homoafetivos, diga-se de passagem) e obter éxito no processo.
#. Nota informativa: Tiziano e o marido, Victor, conseguiram adotar duas crianças: Margherita e Andres.
O efeito é quase paralisante para “La Vita Splendida”, primeiro destaque do álbum”, especialmente para aqueles que entendem o ponto de vista de uma pessoa que sofre com a depressão. De certo modo, a música retrata essa relação, digamos, no mínimo, complicada. Como alguém que não tem costume de abrir um sorriso automático para muitas músicas, esse álbum já carrega duas das minhas exceções favoritas.
Impressões sobre as demais faixas:
• Il Paradiso dei Bugiardi: irônica e vintage ao melhor estilo Tiziano. Me lembra vagamente dos grupos dos anos 80 e 90 que escutava na infância, a sonoridade é muito agradável.
• I Miti: Certamente é uma música para quem tem bom humor, irônica e divertida. Na minha opinião, uma ótima analogia ao dito popular “nunca conheça seus ídolos”. A faixa também carrega muito o estilo do Vecchioni, é uma boa pedida.
• Addio Mio Amore: Escutaria em uma esta e também no último volume do fone. Uma das minha favoritas no álbum.
• Mi Rimani Tu e A Parlare da Zero: Eu ouviria pensando na vida, são lindas dedicatórias do Tiziano e muito poéticas.
• L’Angelo degli altri e di se stesso (com Caparezza): tem uma vibe boa de ouvir, embora não faça meu estilo.
• Ambra/Tiziano (com Ambra): Adorei a criatividade do título e acho que as vozes combinaram muito bem e, apesar de não curtir tanto a letra quanto gostaria, entendo a intenção por trás. A voz baixinha da Ambra me lembra outra voz feminina em colaboração com o Tiziano – “Il Conforto” (2017) com a Carmen Consoli -, só que sem a extensão da Carmen.
• For Her Love – Sempre Amata (com Sting): Gostei muito da releitura da música do Sting, o admiro muito como artista, e essa claboração foi realmente inesperada. Os versos em italiano combinaram muito com a versão original (o que é raro de acontecer), assim como a junção de dois grandes artistas também é muito agradável, um casamento perfeito. Na minha opinião, deviam colaborar mais vezes.
• Quando io ho perso te: Uma das minhas favoritas nesse conjunto. Cantaria bem alto no San Siro, se fosse ao show. É a outra face de “La Vita Splendida”.
Ouça “Il Mondo è Nostro”:
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